Deputado do Acre é acusado de abrir ilegalmente ramal e ‘invadir’ terra indígena para beneficiar propriedade da família

O deputado federal Zezinho Babary (PP/AC) é acusado de realizar ilegalmente a abertura do ‘Ramal Barbary’, que liga a cidade de Porto Walter a Cruzeiro do Sul. A estrada teria sido aberta com máquinas compradas com emendas parlamentares. Na época, ele era prefeito. Além disso, ele é acusado de mudar o traçado do ramal para beneficiar a propriedade da família, além de ‘invadir’ território indígena para a passagem da estrada vicinal.

As acusações foram publicadas pelo jornal Folha de São Paulo no último sábado, dia 11. A reportagem é assinada por Flávio Ferreira e Henrique Santana.

Máquinas compradas com emendas abriram estrada com desmate ilegal

O deputado federal Zezinho Barbary (PP-AC) foi à tribuna da Câmara dos Deputados em junho para protestar contra o fechamento, imposto por decisão judicial, de uma estrada na floresta amazônica entre os municípios de Cruzeiro do Sul (AC) e Porto Walter (AC).

Em seu discurso, não contou que os trabalhos na via no interior do estado do Acre foram feitos por sua gestão, que realizou desmate ilegal com máquinas compradas por meio de emendas parlamentares, quando ele era prefeito de Porto Walter.

Também não disse aos colegas da Casa Legislativa que as obras levaram a estrada a passar em propriedade rural da família dele e posteriormente invadir uma terra indígena demarcada. Nem que agora, na condição de congressista, destinou recursos de sua cota de emendas para regularizar a estrada que ele abriu violando a lei ambiental e beneficiando sua família.

Barbary disse em entrevista à Folha que “faria tudo de novo” e qualificou de “burocracia” as exigências da lei ambiental. Afirmou ainda que sua conduta buscou atender ao clamor da população local e tirar a cidade do isolamento. Ele nega ter realizado qualquer ato em benefício próprio.

Na região Norte do país, as estradas de pequeno e médio porte são chamadas de ramais, e a via criada pelo congressista quando chefe do Executivo municipal passou a ser conhecida pelo sobrenome dele.

Desde seu início, em 2015, as obras do ramal Barbary foram marcadas por desmatamento de floresta amazônica. Em agosto daquele ano, fiscais do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) constataram que a prefeitura havia aberto 12,4 km da via com degradação ambiental.

O então prefeito acompanhou a inspeção, e, de acordo com o documento da fiscalização, “a justificativa do autuado [Zezinho Barbary] era interligar através deste ramal o município de Porto Walter com as comunidades do Escuro, Vista Alegre e Foz do Mirim, onde seriam beneficiadas também pelo Programa Luz Para Todos”.

Em seus mandatos na Prefeitura de Porto Walter, de 2013 a 2020, Barbary recebeu máquinas pesadas financiadas principalmente por emendas parlamentares do então deputado federal Flaviano Melo (MDB), que também foi governador do Acre e morreu em 2024.

“Quando assumi em 2013, a Prefeitura tinha apenas uma máquina, e hoje depois de oito anos de nossa gestão, estou deixando mais de 40 veículos de diferentes modelos para que o novo gestor possa melhorar a vida do produtor rural com abertura de ramal, construção de tanques e açudes. Temos um maquinário completo”, disse o político no fim de seu mandato em 2020, segundo publicação em rede social da prefeitura municipal.

Em entrevista à Folha na última quarta (8), Barbary afirmou que três máquinas compradas com uma emenda no valor de R$ 1,1 milhão de Flaviano Melo foram essenciais para a abertura dos primeiros 27 km do ramal: um trator de esteira, uma retroescavadeira e uma pá carregadeira.