Justiça antecipa audiência do marido que matou a mulher após ela descobrir traição no Acre

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A primeira audiência de instrução e julgamento de Hitalo Marinho Gouveia, de 33 anos, preso ao confessar ter matado a esposa Adriana Paulichen, de 23 anos, com duas facadas e por estrangulamento no dia 9 de julho deste ano em Rio Branco, foi antecipada para o dia 20 de outubro.

A Justiça havia marcado a primeira audiência para o dia 25, mas decidiu que o réu deve ser ouvido no próximo dia 20 por videoconferência a partir das 8h. Testemunhas do caso também devem prestar depoimento.

No começo de setembro, o juiz Alesson Braz, da 2ª Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Rio Branco e Auditoria Militar, autorizou a quebra do sigilo telefônico do acusado e também da vítima para esclarecer melhor o fato, que já que os dois estavam brigando dias antes do crime. A defesa já arrolou algumas testemunhas que devem ser ouvidas na audiência.

O juiz determinou que os aparelhos fosse encaminhados ao Instituto de Criminalística para levantamento das conversas no aplicativo WhatsApp, com atenção aos contatos com a mulher que ele estaria mantendo um caso, e mais três pessoas específicas e qualquer outro contato, que tratem sobre as agressões que ocorreram na noite do dia anterior e o caso extraconjugal mantido por ele.

O documento pede ainda que seja levantada a relação de ligações efetuadas, recebidas no dia do crime e nos dois dias que o antecederam, constando o dia, horário e, se possível, o nome do contato, no caso desse estar cadastrado nas agendas dos telefones. Na mesma decisão, o juiz também manteve a prisão de Gouveia.

A defesa de Hitalo não se posiciona publicamente sobre o caso.

Nas redes sociais, Hitalo se declarava para a mulher — Foto: Reprodução

Declarações em redes sociais

Nas redes sociais, Hitalo se declarava constantemente para a mulher. O casal, inclusive, gostava de usar blusas de super-heróis. No ano passado, quando completou dois anos de casada com Hitalo, ela escreveu:

“Parabéns para nós, que essa data se repita por mais mil anos e que em todos eles estejamos juntos. Te amo como nunca amei nada no mundo e esse amor cresce mais a cada dia. Obrigada pelas flores lindas e pelo presente que amei e por ser sempre tão gentil, romântico e atencioso, um príncipe que Deus colocou na minha vida”, publicou Adriana em seu Facebook.

Andréia Paulichen, irmã da vítima, é quem cuida do filho dela atualmente, diz que há dias que custa acreditar em tudo que aconteceu.

“Ela foi assassinada por alguém que dizia que a amava, que postava em suas redes sociais declarações, dizendo que ela era o amor da vida dele. Alguém que se vestia de super-herói e acredito que era assim que ela tinha ele: como um super-herói. Era assim que eles se vestiam; com camisetas de super-heróis”, lamenta.

Ela lembrou ainda que a irmã, além das agressões físicas, foi humilhada e sofria violência psicológica, principalmente durante a gravidez.

“Ela foi traída pelo marido, pela melhor amiga e pra ele ainda foi pouco, ele ainda teve que tirar a vida dela. A gente não consegue entender, por mais que busque, o motivo para tanta crueldade. Ele tirou tudo dela”, diz muito emocionada.

Denúncia

A justiça aceitou denúncia contra o suspeito no início de agosto. A denúncia, assinada pelo promotor de Justiça Efrain Mendoza Filho, aponta crime torpe contra mulher por razões do sexo feminino (feminicídio), com recurso que dificultou a defesa da vítima.

“A ação do denunciado tomou por base a torpeza, visto que suas ações são imorais, vergonhosas, repudiadas moral e socialmente, e demonstram com clareza a depravação espiritual do agente. Matou a vítima por esta não aceitar suas traições. Importa ainda destacar que o crime foi praticado dentro do ambiente familiar, valendo-se das relações domésticas, visto que a vítima era esposa do denunciado. O crime foi cometido na presença do filho da vítima, um bebê de poucos meses de idade, que levará consigo esse trauma ao logo de toda a sua vida, carregando o estigma deque seu pai executou de forma fria e perversa sua mãe”, destaca o promotora denúncia.

Gouveia segue preso no Complexo Penitenciário de Rio Branco. O pedido de liberdade provisória foi protocolado no dia seguinte do crime. No pedido de liberdade, a defesa alegava que ele é réu primário, tinha bons antecedentes e tinha casa fixa e ocupação lícita.

O promotor qualifica ainda o crime hediondo cometido contra Adriana por motivo torpe, com agravante de asfixia, à traição e contra a mulher por razões da condição de sexo feminino.

O MP-AC pede ainda o pagamento de indenização à família da vítima, ascendentes e descendentes, na ordem de dois salários mínimos, ou seja R$ 2,2 mil , por cada mês de vida que teria a vítima até completar a idade de expectativa de vida da mulher brasileira.

Ainda na segunda-feira (2), o Ministério Público pediu quebra de sigilo telefônico tanto da vítima como do acusado, destacando que quer a relação de ligações efetuadas e recebidas no dia do crime e nos dois dias que o antecederam, constando, o dia, horário e, se possível, o nome do contato.

Depoimento do acusado

O crime ocorreu no bairro Estação Experimental em um ponto comercial aonde o casal vivia temporariamente. Quando a Polícia Militar chegou ao local, Gouveia já estava detido por um policial civil, que acionou as guarnições

No depoimento dado à polícia, Gouveia contou que manteve união estável por dois anos e 11 meses com a vítima, sendo que após esse período eles se casaram há 10 meses. Eles têm um filho de seis meses.

O preso contou que desde o mês de novembro de 2020, quando a esposa descobriu uma traição, ela passou a ser agressiva com ele, de maneira que ao discutirem, ela dava chutes, socos, arranhões, mas ele nunca revidava.

Ele relatou que no dia do crime, por volta de meia-noite, começou a discutir com a esposa dentro do apartamento que tinham acabado de alugar no bairro Isaura Parente, depois que contou que tinha traído ela com a amiga dela.

Depois disso, os dois voltaram para o escritório, onde estavam morando de forma provisória e a mulher teria começado a bater nele com chutes e tapas. E depois, ela pediu que ele fosse embora, mas ele decidiu ficar e trancou a porta do escritório.

Foi quando a vítima pegou uma faca e começou a agredi-lo e acabou conseguindo furar a mão e também a panturrilha dele. Gouveia contou que ela se assustou com a quantidade de sangue e parou com as agressões. Ele então ligou para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e, por volta de 1h, foi levado para a UPA da Sobral.

Ainda conforme o depoimento, devido à gravidade do ferimento na perna, ele foi transferido de Samu para o Pronto-socorro. Depois desse atendimento, a esposa teria buscado ele no hospital e o levou até o escritório novamente. Lá, estavam duas irmãs dela conversando.

Já por volta das 7h, ele contou que a esposa voltou a agredi-lo e, desta vez, na frente de uma das irmãs, ela teria pegado uma panela para bater nele, mas foi contida. Adriana também chegou a ligar, segundo relato do marido, para o namorado da amiga para contar sobre a traição e fazer ameaças. Nesse momento, ela teria quebrado o nariz de Gouveia.

12 horas de agressões e briga

Após cerca de 12 horas de agressões, insultos e brigas, eles teriam conversado sobre a separação e que tudo seria de comum acordo.

Nesse momento, o acusado contou que começou a arrumar seus pertences para sair do local e a mulher foi em direção ao filho deles com uma almofada, dizendo que já que não conseguiu matar Gouveia, iria matar a criança e foi quando ele reagiu e deu as facadas contra ela.

Em seguida, ele a estrangulou e quando ela estava fraca, teria soltado no chão. Ainda no depoimento, ele disse que a mulher novamente partiu para cima dele e foi quando ele apertou o pescoço dela por cerca de cinco minutos até ela desmaiar. Ao perceber que ela estava sem vida, ligou para um amigo e para um advogado.

Pediu separação após traição

A jovem Adriana Paulichen tinha descoberto uma traição e pediu a separação do marido Hitalo Gouveia antes de ser morta por ele. Para a família dela, esse foi o motivo para ele ter matado a mulher.

À polícia, o suspeito alegou que foi esfaqueado pela mulher e que ela ameaçou o filho deles de seis meses.

Porém, essa versão é negada pela família da jovem. Ainda muito abalada com a morte da irmã, Andréa Paulichen conversou com o G1 no dia 11 e afirmou que o ex-cunhado mentiu ao falar que ela queria machucar o filho. Ela afirmou que o real motivo para o crime foi o desejo da jovem sair de casa e o fim do relacionamento.

“Ela descobriu na madrugada do assassinato que ele tinha traído ela, não era a primeira vez que ela sabia, mas ele sempre negava e quando negava ela ainda estava com ele. Ela nunca ameaçaria o filho, era o sonho dela ser mãe. Inclusive, quando ela namorava com ele falava que queria um filho e ele dizia que não queria, que já tinha duas filhas, mas ela queria ser mãe e ter uma família. Ela terminou com ele porque ele não queria. Era o sonho dela ser mãe”, lamentou.

Ainda segundo Andréia, as traições começaram quando a irmã dela estava grávida de seis meses. A jovem comentou com a irmã que o marido passou a tratá-la mal durante a gestação, ouvia que ele não a amava mais e chegou até expulsá-la de casa. Mesmo assim, a mulher seguia com o relacionamento por amor.

A parente relatou também que Gouveia já tinha sido denunciado na empresa onde trabalhava como corretor de imóveis por assédio. “Ele tinha sido denunciado por assédio, ele vendia imóveis. Nunca procurei saber, mas ela descobriu por acaso que ele tinha esse processo”, concluiu.

 

Fonte: G1AC

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