Indígena de Mâncio Lima fala sobre seus desafios e sonhos

trajétoria profissional

“Nasci em 1989, na beira do Igarapé grande, épocas de enormes acontecimentos, pois o povo sob a liderança do falecido e emérito cacique Mario Puyanawa (Hawê) estava protagonizando o processo de auto demarcação da terra. Em 2008, através da professora Olíndina Rocha, comecei lecionado aulas de Língua Inglesa na escola Ixubãy Rabui Puyanawa. No entanto, por motivos políticos, fui substituído por uma não-indígena que até hoje nunca avançou com o ensino da língua.
Em 2009 fui convidado para atuar como professor substituto de Língua Inglesa, na escola Antônio de Oliveira Dantas. Aquela foi uma grande oportunidade porque no ano seguinte fui indicado para lecionar na escola Francisco Freire de Carvalho, onde permaneci até outubro de 2012, quando tomei a maior decisão de minha vida, ir para Brasília.

Entregando um cocar Puyanawa para o senhor Jorge Paulo Lemann, no encontro anual da Fundação Lemann,SP

Em Brasília, nos três primeiros anos a vida foi uma verdadeira saga devido as dificuldades financeiras e a pedagogia da universidade Apesar das batalhas enfrentadas, participei de vários projetos, programas e estágios. Em junho de 2016, apresentei minha dissertação de monografia no Centro de Convivência dos Povos Indígenas da UnB. Pela brilhante defesa, recebi o V Premio Martin Nobion de melhor dissertação de monografia do Departamento de Antropologia, Prêmio Destaque de Iniciação Cientifica da UnB e Distrito Federal e uma bolsa para aprimorar meu inglês na escola da Embaixada Americana, Thomas Jefferson. Apresentei meu mestrado abordando o atendimento de minha mãe nas Casas de Saúde Indígena de Mâncio Lima e Rio Branco, em 2017, me tornei o aluno InspiraUnB

Problemáticas

Atualmente, a “cultura” está sendo fundamentada com o constante uso do chá alucinógeno da Ayahuaska, rapé e grandes beberagens de caiçuma. Mas essas coisas não pertencem legitimanete aos verdadeiros fundamentos da nossa história. Se você perguntar as crianças e os jovens sobre as tradições Puyanawa, não sabem informar praticamente nada. Esse movimento só tem ganhado visibilidade porque está gerando altos retornos financeiros para quem está na frente. Além disso, existem outros problemas sociais, como o Despotismo. Os projetos, benéficos e vagas de empregos que são destinadas a comunidade não tem consulta prévia e transparência com o povo, somente um pequeno grupo se beneficia. Nas vésperas das eleições 2020, com a finalidade de promover uma atividade cultural na aldeia Barão, fomos impedidos pelo cacique e o atual coordenador da Funai, que ameaçou barrar a atividade cultural com a Polícia Federal. Eles alegaram que não se podia promover qualquer evento, mas ao mesmo tempo estavam acontecendo grandes reuniões, aglomerações de candidatos e partidos políticos.
No cenário atual, a maioria dos jovens vivem sem oportunidade, sem quaisquer perspectivas e tristemente se afundando nos vícios.

Soluções

Devem ser desenvolvidas ações culturais e lúdicas visando preservar e fortalecer nossas raízes, com a presença e participação constante dos mais velhos. Ainda temos anciões com renomados conhecimentos sobre nossa história, especialmente Railda Manaitá, ela e outros velhos precisam ser ouvidos e valorizados. Temos um vereador indígena, um coordenador de Assuntos Indígenas, um prefeito que se diz aliados dos indígenas. Acredito que coletivamente poderíamos fazer um trabalho social, cultural e econômico, que possa ser modelo para o Acre e o país.

Atuação na casa de saúde Indígena, distrito especial de Kayapó
Atuação na casa de saúde Indígena, distrito especial de Kayapó

Sonhos

Jósimo está construindo um belo tese etnográfica, que aborda os elementos e aspectos culturais de seu povo. “Meu trabalho se constitui em documentar a memória dos mais velhos e seus exímios conhecimentos. “Nosso velhos não podem ser esquecidos”. Atualmente está concluindo seu doutorado em Antropologia Social pelo Museu Nacional da UFRJ. É aluno da escola EducationUSA, do Programa Access da Embaixada Americana. Em 2019 foi selecionado para o Programa Ponte de Talentos, da Fundação Lemann, onde recebeu monitoria constante em Língua Inglesa e está sendo sondado pelas melhores universidades dos Estados Unidos para cursar Pós-doutorado. Em abril de 2020 ia participara da Brazil Conference na Harvard University, a participação foi cancelada devido a pandemia. Juntamente com jovens universitários de Mâncio Lima está construindo um instituto educacional. “Objetivo informar e trazer esses maravilhosos programas para Mâncio Lima, entre eles, criar um instituto educacional para incentivar nossos jovens e criar uma escola de inglês. Jósimo ainda atuou como antropólogo no Distrito Sanitário Indígena Kayapó, na cidade de Colíder, Mato Grosso. É embaixador da Global Youth Climate Pact, um projeto que reúne jovens intelectuais do mundo inteiro para discutir as atuais mudanças climáticas. Além da tese, está produzindo um livro especifico sobre os Puyanawa, uma coletânea das narrativas tradicionais do povo e se debruça no estudo da Língua Puyanawa, inglês, francês, espanhol e outras línguas indígenas. Foi um dos premiados pela Prefeitura de Mâncio Lima, na Lei Aldir Blanc, com Certificado de Reconhecimento Cultural.