
Os Correios vivem uma das maiores crises de sua história recente e correm contra o relógio para viabilizar um empréstimo de R$ 10 bilhões nas próximas duas semanas. O valor é considerado essencial para impedir que a situação financeira da empresa piore e para dar fôlego ao plano de reestruturação da estatal.
A direção da companhia pretendia captar R$ 20 bilhões, mas precisou reduzir a meta depois de avaliar que os bancos cobraram juros muito acima do esperado nas negociações iniciais. A nova rodada de buscas por crédito inclui instituições de grande e médio porte, com garantia da União — o que, em teoria, deveria reduzir o risco para os bancos.
O empréstimo também é peça central no plano de redução de despesas. A ideia é lançar um Programa de Demissão Voluntária (PDV) capaz de retirar 10 mil trabalhadores da folha.
A medida, porém, é cara: no último PDV, apenas 3,6 mil dos 8 mil interessados formalizaram a saída, e a empresa acredita ser necessário oferecer condições mais atrativas desta vez.
A meta é economizar cerca de R$ 2 bilhões por ano apenas com a diminuição da folha salarial.
📊 Juros altos travaram negociação inicial
Na primeira rodada de propostas, bancos como BTG Pactual, Citibank, ABC Brasil e Banco do Brasilchegaram a pedir taxas de até 136% do CDI, mesmo com garantia da União. Isso representaria quase R$ 3 bilhões por ano só em juros — um cenário considerado insustentável.
O governo segue o parâmetro de que financiamentos garantidos pelo Tesouro não devem ultrapassar 120% do CDI, prática usada para impedir operações muito onerosas. Agora, a empresa tenta conseguir ao menos metade da quantia desejada dentro desse limite.
⚠️ Risco de retenção de recursos e descumprimento contratual
A situação se agrava porque os Correios descumpriram cláusulas de um empréstimo anterior, de R$ 1,8 bilhão, contratado com BTG, Citibank e ABC Brasil.
O acordo previa que, caso o estoque de precatórios superasse R$ 900 milhões, o banco poderia exigir pagamento antecipado da dívida.
No segundo trimestre, o valor ultrapassou R$ 2 bilhões, acionando a penalidade.
Como resultado:
juros subiram de CDI + 3% para até CDI + 5%;
foi necessário assinar um aditivo de R$ 40,5 milhões;
há risco de os bancos reterem recursos da empresa já a partir de amanhã (15).
📉 Prejuízo acumulado e atraso nas entregas
Os números mostram a gravidade do cenário:
R$ 4,3 bilhões de prejuízo acumulado em 2025;
R$ 2,6 bilhões negativos só entre abril e junho;
rombo mensal de R$ 750 milhões no caixa.
Com fornecedores sem receber, as operações foram afetadas. O índice de entregas no prazo está em 92%, abaixo dos 95% considerados mínimos para manter grandes contratos — embora tenha melhorado em relação ao pior momento, quando caiu para 76% neste ano.
🧩 Entenda o que levou à crise
A crise dos Correios é resultado de uma combinação de fatores:
queda contínua nas receitas;
custos operacionais altos;
perda de competitividade com novas empresas de logística;
dívidas e contratos descumpridos;
necessidade de crédito em larga escala;
juros elevados impostos pelos bancos;
risco de retenção de recursos e antecipação de dívidas.
A estatal já levou ao TCU seu plano de reestruturação para evitar questionamentos futuros, enquanto tenta garantir o empréstimo que pode definir seu futuro.
Por Contilnet






