Maior do Norte, Complexo do Café é inaugurado e promete transformar o Juruá

Na manhã deste sábado (28), a região do Juruá viveu um marco histórico com a inauguração do Complexo Industrial do Café, localizado no município de Mâncio Lima. Considerado o maior empreendimento do gênero em toda a região Norte, o complexo promete transformar a realidade econômica e social de centenas de famílias envolvidas na cadeia produtiva do café, especialmente no âmbito da agricultura familiar.

Presente no evento, o prefeito de Cruzeiro do Sul, Zequinha Lima, destacou a importância estratégica da nova estrutura para o desenvolvimento sustentável do território. “O Juruá está vivendo um momento ímpar com a implantação desse complexo. É uma vitória dos pequenos produtores, da agricultura familiar, de toda a nossa região. Um sonho antigo que agora se torna realidade graças ao esforço coletivo”, afirmou. Zequinha também fez questão de reconhecer dois nomes fundamentais para que o projeto saísse do papel: Jonas Lima, que incentivou os primeiros plantios de café, e a ex-deputada federal Perpétua Almeida, atual diretora da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), que viabilizou o investimento do governo federal.

Zequinha Lima, prefeito de Cruzeiro do Sul/Foto: ContilNet

O prefeito ressaltou que o complexo não pertence apenas a Mâncio Lima ou Cruzeiro do Sul, mas representa toda a região do Juruá e, por isso, foi criada a Cooperativa do Juruá, responsável pela gestão da produção. “O café veio para somar à renda das famílias que já plantam farinha e outras culturas. Agora, com o beneficiamento local e o valor agregado ao produto, temos a chance de levar o café do Acre para o mundo”, disse. Ele reforçou ainda a necessidade de melhorias urgentes na BR-364, que é a principal via de escoamento da produção.

Capacidade para 20 mil sacas e padrão de exportação

De acordo com Eduardo Tosta, representante da ABDI, o complexo industrial tem capacidade para beneficiar até 20 mil sacas de café por ano, operando com tecnologias de ponta. “Temos o que há de melhor em equipamentos para garantir café de altíssima qualidade. Desde o recebimento até a secagem lenta de 36 horas, passando por processos de rebeneficiamento e seleção dos grãos, o produto final tem padrão internacional e está pronto para exportação”, explicou.

Cerimônia de inauguração aconteceu neste sábado (28)/Foto: Juan Diaz

Cooperativismo e geração de renda

Um dos idealizadores do projeto, Jonas Lima, destacou o impacto social do cooperativismo para a região. “Antes, a economia girava em torno de auxílios e pescaria. Hoje, temos uma nova realidade com mais de 172 cooperados apenas no setor do café, sendo que 70% deles são de Mâncio Lima”, relatou. Segundo ele, nas últimas semanas da colheita, mais de 700 pessoas foram empregadas diretamente. “Colocando uma diária média de R$ 100, temos uma injeção de R$ 70 mil por dia na economia local, muitos ganham até R$ 300 por dia”, disse.

O crescimento é tão expressivo que já está prevista a construção de uma nova unidade anexa no Ramal 2, que atenderá os produtores daquela região. Em paralelo, a prefeitura de Cruzeiro do Sul lançou um programa anual que distribuirá mudas de café a 100 agricultores familiares, com assistência técnica durante os dois primeiros anos de plantio.

A voz da juventude: o café como instrumento de transformação

Danilo, jovem produtor rural e cooperado da Coppe Café, celebrou o novo momento vivido no Juruá. “Esse complexo vai mudar a vida das pessoas. O café agrega valor, traz renda, qualidade de vida e segurança para continuar produzindo. Eu comecei sem imaginar que Mâncio Lima se tornaria um polo industrial. Hoje vendemos café a R$ 1.200 a saca, e isso atrai mais gente para o campo, tira as pessoas da marginalidade e valoriza toda a cadeia produtiva”, afirmou.

Além de beneficiar diretamente os produtores de café, o impacto também é sentido em outros setores. “Quem ficou na farinha também viu o preço subir. É um ciclo positivo que movimenta toda a economia local, da horta à pecuária”, acrescentou.

Um novo tempo para o Vale do Juruá

A inauguração do Complexo Industrial do Café representa uma conquista econômica. É símbolo de resiliência, organização coletiva e de um futuro mais promissor para o interior do Acre. Com apoio político, técnico e institucional, o café do Juruá começa a trilhar um caminho sólido rumo à consolidação como produto de exportação e alavanca de desenvolvimento social.

“É só o começo”, concluiu Jonas Lima. “Em 2024 colhemos de 700 hectares, em 2025 serão 1.300 hectares e, em 2026, 1.600. Isso aqui muda a vida das pessoas.”