Povos da Floresta na COP30: Mâncio Lima leva sua força ancestral ao centro do debate climático mundial

A relação entre as atividades humanas e o aquecimento da Terra é sustentada por uma imensa base científica produzida ao longo de décadas. O planeta aquece, as florestas adoecem, os oceanos se desequilibram e o clima muda em todos os continentes.

Na Amazônia, porém, esses impactos ultrapassam gráficos e relatórios: são vividos na rotina de aldeias indígenas que enfrentam desmatamento ilegal, invasões de território e a constante ameaça aos seus modos de vida. Cada árvore que cai e cada rio contaminado representam a perda de culturas milenares, saberes e línguas que resistem há séculos.

Neste cenário, a 30ª Conferência do Clima (COP30), realizada de 10 a 21 de novembro em Belém do Pará, simboliza um novo fôlego: o encontro global que valoriza a ciência, fortalece alianças e busca caminhos conjuntos para enfrentar a crise climática.

É desse berço de floresta que surge uma das participações mais significativas: a delegação de Mâncio Lima, cidade mais ocidental do Brasil, coberta por cerca de 80% de floresta preservada e marcada pela ancestralidade dos povos originários. Ali, viver na floresta não é metáfora — é cotidiano, identidade e resistência.

Lideranças dos povos Nukini, Puyanawa e Nawa representam o município na Cúpula dos Povos, levando ao debate internacional a voz de quem cuida da Amazônia muito antes da existência de conferências ou fronteiras.

“Sem rio e sem floresta a gente não vive”: a voz Nukini na COP30

Depoimento reorganizado a partir das falas de Txane Pistani Nukini

Txane Pistani Nukini, liderança espiritual do povo Nukini, destaca a responsabilidade e a alegria de participar da conferência:

“Estar aqui na COP30 é especial. Podemos apresentar propostas ambientais e fortalecer alianças para preservar a floresta dentro do nosso município.”

Ele reforça que a presença indígena é também política e cultural:

“Buscamos parcerias para limpar rios, reflorestar áreas degradadas, combater o desmatamento. Sem rio e sem floresta, a gente não vive.”

Para ele, Mâncio Lima é um território único:

“Nossa cidade está dentro da floresta. Estamos aqui para criar alianças que fortaleçam nossos projetos e ajudem o planeta.”

“Unificar forças para dias melhores”: o chamado Puyanawa

Depoimento reorganizado a partir das falas de Pue Puyanawa

O líder Pue Puyanawa celebra o caráter histórico da participação dos povos acreanos:

“É um privilégio representar o povo Puyanawa, mostrando nossa cultura, nossa espiritualidade e nossa tradição. Estamos unificando forças para buscar dias melhores para a comunidade, para a floresta e para o Acre.”

Segundo ele, a COP30 abre portas reais:

“Estamos conversando com apoiadores e financiadores comprometidos com a preservação da Amazônia. É um espaço de alianças concretas.”

O compromisso, afirma, é com o hoje e com o amanhã:

“Cuidamos da terra, da vida e da floresta para garantir dignidade agora e deixar uma herança saudável para as futuras gerações.”

“A COP da verdade não nos escuta”: o desabafo das mulheres Nawa

Depoimento reorganizado a partir das falas de Lucila da Costa Moreira

Representando as mulheres indígenas do povo Nawa, Lucila da Costa Moreira fez um discurso firme sobre a falta de espaço às vozes mais impactadas pela crise ambiental:

“Falo do nosso território, da demarcação, da luta das mulheres Nawa. Mas não vejo esta como a ‘COP da verdade’. Nós, mulheres indígenas, quase não temos espaço para falar da nossa realidade.”

Ela denuncia a dificuldade de serem ouvidas:

“Falamos pouco sobre o que vivemos com as mudanças climáticas e com a demora na demarcação. Quem sofre na pele não está sendo ouvido.”

Lucila afirma que sua presença é resistência:

“Estamos aqui tentando levar nossa mensagem, mesmo sendo um povo ainda sem território plenamente reconhecido.”

Uma presença que ecoa para além da COP30

A participação de Nukini, Puyanawa e Nawa na COP30 é simbólica e poderosa: mostra que a Amazônia não é apenas um bioma, mas um território habitado, vivo e guardado por quem entende a floresta como parte da própria existência.

Mâncio Lima chega a Belém com a força de sua ancestralidade, a biodiversidade única da região e a sabedoria de povos que sempre souberam o que hoje a ciência reafirma: preservar a natureza é preservar a vida.

Na COP30, suas lideranças não apenas denunciam problemas, mas apresentam soluções, buscam alianças e oferecem ao mundo caminhos ancestrais para um futuro verdadeiramente sustentável.