
A história de vida de José Oliveira do Nascimento, mais conhecido como Zeca da Farinha, se confunde com a própria história da produção de farinha na região do Juruá. Morador do Alto do Pentecoste, em Mâncio Lima, Zeca tem 47 anos — 46 deles vividos na mesma comunidade onde nasceu, cresceu e segue trabalhando até hoje.
O que começou como um legado do pai, falecido há alguns anos, virou um projeto de inovação que vem chamando atenção de agricultores, compradores e visitantes. Zeca decidiu enfrentar as velhas dificuldades enfrentadas pelo produtor rural e transformar a tradicional Casa de Farinha em um espaço automatizado, seguro e com alto rendimento.

A decisão de modernizar veio da vivência diária no setor
“Eu vendo as dificuldades para fazer farinha hoje na região do Juruá, a gente começou a inovar, tirando a escravidão do processo manual”, explica Zeca.
A primeira mudança começa logo na chegada da mandioca. Em vez da lavagem manual, o produtor implantou um lavador mecanizado, que elimina impurezas e acelera a limpeza.
Em seguida, entra em ação o equipamento conhecido como banco automatizado, substituindo o antigo catitu, peça que já causou inúmeros acidentes.
“Hoje ninguém precisa mais ter contato direto. Antes enrolava cabelo, prendia dedo, era perigoso demais. Agora esse risco acabou”, conta.

Tecnologia inventada dentro da comunidade
O ponto alto da casa de farinha é a peneira automatizada, projetada e construída pelo próprio Zeca.
“Fui eu que criei. Você joga o produto em cima dela e em minutos tudo está pronto”, explica, orgulhoso.
Além disso, ele adaptou fornos com controle de temperatura, detalhe fundamental para garantir sabor, cor e durabilidade da farinha.
“O ser humano não consegue controlar a temperatura certinho no processo manual. Aqui eu consigo, e por isso a farinha não perde qualidade.”
A combinação desses equipamentos elevou a eficiência do trabalho e reduziu perdas.
A legítima farinha de Cruzeiro do Sul – e a versão com coco
Zeca mantém a tradição e produz a famosa farinha de Cruzeiro do Sul, considerada uma das melhores do país. Ele oferece dois tipos:
• Farinha pura, a legítima;
• Farinha com coco, uma especialidade que ganha destaque pela qualidade.
A versão com coco, feita de forma automatizada, supera facilmente a produzida manualmente.
“No manual ela queima por cima e por dentro fica branca, por isso rança rápido. A minha tem validade de até 365 dias”, explica.
Após passar por todos os processos, a farinha descansa 24 horas antes de ser ensacada.
Apesar de ainda trabalhar com áreas pequenas de plantio, Zeca mostra números expressivos:
• Em 8 horas, a Casa de Farinha produz 25 sacas.
• Em um mês, isso representa mais de 1.000 sacas, se houver mandioca suficiente para manter a produção contínua.

“O problema hoje não é produzir farinha. O problema é o produtor acreditar, plantar mais e aumentar as áreas para abastecer casas de farinha como essa”, destaca.
Preço e competitividade
O custo de produção da farinha automatizada também chama atenção:
• Custo na Casa de Farinha do Zeca: R$ 70 por saca
• Custo no modo tradicional: R$ 141 por saca
Hoje, o produtor vende o quilo da farinha comum por R$ 5, o que equivale a R$ 250 por saca de 50 kg.

Convite à comunidade e aos consumidores
Zeca aproveita para deixar um convite a quem deseja conhecer o processo de perto:
“Venha conhecer a Casa de Farinha do Zeca, aqui no Ramal do Pentecoste, km 27. Venha tirar esse tabu de que farinha automatizada não é boa.”
O contato para compra ou visitas é o telefone (68) 99973-8706.






