
Dois anos depois do acidente aéreo que matou 12 pessoas em Rio Branco, familiares das vítimas ainda convivem com a dor da perda e a incerteza sobre o que realmente aconteceu. O relatório do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) mostra que a apuração avançou apenas 5% em um ano — passando de 55% em 2024 para 60% neste outubro de 2025 — e ainda não apresentou nenhuma recomendação de segurança.
O avião, um Cessna Grand Caravan 208B, caiu na manhã de 29 de outubro de 2023, poucos minutos após decolar do Aeroporto Internacional de Rio Branco com destino ao município de Envira, no Amazonas. A aeronave transportava 12 pessoas, entre elas uma bebê de 1 ano e 7 meses. O impacto ocorreu em uma área de mata a menos de um quilômetro da cabeceira da pista.
Segundo o Cenipa, o modelo é homologado para dois tripulantes e dez passageiros, com peso máximo de decolagem de 3.969 quilos. A investigação analisa componentes técnicos, fatores humanos e psicológicos, além de aspectos ligados à manutenção e operação do avião.
Luto coletivo em Envira
Em Envira (AM), de onde eram a maioria das vítimas, a tragédia deixou uma marca profunda. O ex-prefeito e então secretário municipal de saúde, Rômulo Mattos, que perdeu dois sobrinhos no acidente, lembra do impacto que a tragédia causou na cidade.
“A cidade parou, literalmente. Foi um momento de desespero, mas também de muita solidariedade. Ainda hoje sentimos saudade e seguimos esperando por uma explicação efetiva do que aconteceu”, lamenta.
Dor e espera
O sentimento é compartilhado por Rosiney Mendes, irmão da servidora pública Edneia França, também vítima do acidente. Ele recorda o momento em que deixou a irmã no aeroporto, minutos antes da queda.
“Ela embarcou sorrindo. Quando cheguei em casa, não deu cinco minutos e me ligaram dizendo que algo tinha acontecido. Fui correndo pra lá e vi o cenário que jamais imaginei ver”, relembra.
Mendes diz que o mais difícil é a falta de respostas.
“Dois anos e ninguém sabe o que aconteceu. Se foi falha no motor, excesso de peso, erro humano… nada é explicado. A gente quer apenas uma resposta.”
Apesar disso, ele confirma que as famílias chegaram a um acordo de indenização com a empresa ART Táxi Aéreo.
Avião já havia tido problema anterior
O mesmo modelo de aeronave já havia se envolvido em um incidente em 2008, quando precisou fazer um pouso de emergência na rodovia Transamazônica, no Pará. Na época, o Cenipa apontou falha de manutenção como causa da perda de óleo no motor. O avião foi recuperado e voltou a operar.
Investigações sem previsão de conclusão
O último relatório divulgado pelo Cenipa indica que 60% da investigação foi concluída até esta quarta-feira (29), mas não há previsão para o relatório final. Enquanto isso, familiares das vítimas seguem esperando por um desfecho.
“Dois anos já se passaram e o que temos é o mesmo silêncio”, resume Mendes.
A reportagem entrou em contato com a ART Táxi Aéreo, que indicou o advogado responsável pelo caso. O profissional, no entanto, não respondeu às mensagens nem atendeu às ligações.






