COLUNA DO ALEX WILLIAM: levantamento aponta que 70% dos eleitores votariam em candidato apoiado por Zé Luiz caso Chicão conseguisse cassar prefeito; veja nomes prováveis a acordar MDB do “sonho”

A judicialização da política é um esporte de alto risco no Brasil, frequentemente jogado com a mira voltada não para a justiça, mas para a subversão da vontade popular. O caso que se desenrola em Mâncio Lima, com a ação do MDB pedindo a cassação do prefeito Zé Luiz (PP) e do vice Andinho (UNIÃO), é uma demostração de como a estratégia jurídica pode colidir com às urnas.

O tema da acusação do MDB: “abuso de poder político” e econômico ligado a ações da gestão anterior é um rito comum em disputas pós-eleitorais. A judicialização visa anular o resultado, forçando um novo pleito. Contudo, em Mâncio Lima, o tiro pode sair pela culatra, transformando a vitória judicial em uma derrota política ainda mais vexatória.

Os números recentes do Instituto Data Control desenham um cenário desafiador para Chicão e seus aliados: o prefeito Zé Luiz ostenta uma aprovação de 78,5%. Mais do que isso, se a cassação vingasse e uma nova eleição fosse convocada, o efeito prático seria nulo para o grupo opositor. Nossas enquetes apontam que cerca de 70% dos eleitores votariam no candidato indicado por Zé Luiz.

A matemática é fria: cassar o mandato do prefeito não mudará a correlação de forças na cidade. A gestão, apoiada por uma popularidade massiva, simplesmente trocaria de nome, mas não de projeto. E hipotéticamente qual seria esse nome? Os secretários Edvaldo, Rusie Lima, José Luiz Bentes e Tânia Gadelha seriam os favoritos para disputarem. Nomes como do empresário Além Almeida e Renan Costa também são ventilados.

O Risco da Percepção Pública

Nesse contexto, a estratégia do MDB, liderado por Chicão, Manoel Medeiros e pelo advogado Márcio Bernardo, assume ares de desespero e má leitura da conjuntura local. Qual é a mensagem enviada ao eleitor que aprovou a gestão em quase 80%?

Afronta à Vontade Popular: A oposição corre o risco de ser vista como o grupo que tenta, a todo custo, derrubar um governo popularmente legitimado, usando “brechas” jurídicas para vencer na mesa o que não conseguiu nas urnas. Isso pode gerar ainda mais antipatia, solidificando o voto de aprovação no grupo do prefeito, mesmo que com outro nome.

  • O Efeito Vingança: O eleitor tende a abraçar o lado que considera injustiçado. Uma cassação por motivos técnicos, descolada da percepção de má gestão (que é claramente positiva, dada a alta aprovação), pode ativar um voto de “vingança” contra a oposição, tornando a vitória do novo candidato apoiado por Zé Luiz ainda mais robusta.

O Fantasma do Passado

Para piorar o cenário da oposição, o debate não está restrito aos méritos da atual gestão. O grupo do Progressistas fez questão de trazer à tona o histórico de um ex-prefeito ligado ao MDB, condenado a devolver R$ 4 milhões por má aplicação de recursos públicos neste mês de outubro e réu em outras dezenas de processos contra o erário público: uma verdadeira fortuna.

Ao mirar na cassação por suposto “uso da máquina”, a oposição se torna um alvo fácil para a retórica da situação, que pode questionar: o grupo que busca a cassação tem moral para falar de bom uso do dinheiro público, dado o passivo milionário deixado por um de seus ex-líderes? A oposição corre o risco de dar mais munição à situação, expondo suas próprias feridas enquanto busca atingir o adversário.

A Lição

O caso é um lembrete de que a força da política reside na legitimidade popular, e não apenas nas petições judiciais. O MDB deveria se perguntar: se a cassação for decretada, o que o grupo realmente terá conquistado? A resposta mais provável é: o direito de perder uma eleição suplementar, consolidando o poder do grupo adversário sob nova roupagem e com ares de mártir político.

Se a oposição realmente deseja retornar ao poder, o caminho não está no tapetão da Justiça Eleitoral, mas na base. É preciso construir uma alternativa que dialogue com a alta aprovação do eleitorado, apresente um projeto superior e, mais importante, conquiste a confiança daquele eleitor que, hoje, garante ao grupo do atual prefeito o poder de decidir quem governará Mâncio Lima. Caso contrário, a cassação será apenas um ato jurídico que antecede a inevitável confirmação da vontade popular.