Acre é um dos primeiros estados do Norte a receber novo remédio contra tipo agressivo de câncer de mama

O Acre recebeu nesta sexta-feira (24), 26 unidades do medicamento Trastuzumabe Entansina (T-DM1), utilizado no tratamento do câncer de mama do tipo HER2-positivo. Essa é a primeira vez que o fármaco chega ao estado por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), representando um avanço importante na oferta de terapias oncológicas no Acre.

O medicamento combina quimioterapia e anticorpo em uma única molécula, o que torna o tratamento mais eficaz e com menos efeitos colaterais. É indicado especialmente para mulheres que ainda apresentam doença ativa após o tratamento inicial, como cirurgia ou quimioterapia. Além de proporcionar melhores taxas de sobrevida, o uso do T-DM1 reduz o risco de recorrência e é considerado o principal avanço no tratamento do câncer de mama HER2-positivo nos últimos anos.

Os medicamentos já estão disponíveis na Unacon (Unidade de Alta Complexidade em Oncologia), que é referência estadual no tratamento de câncer. A distribuição será feita conforme a demanda de pacientes com indicação médica, e o estado poderá solicitar novos lotes conforme o uso e a necessidade local, dentro do cronograma nacional. Esse envio inicial garante a continuidade do tratamento para pacientes que já aguardavam acesso ao medicamento.

De acordo com o médico oncologista Rafael Teixeira, da Unacon, o medicamento representa um avanço no tratamento da doença por combinar alta eficácia com menor toxicidade em comparação às terapias convencionais. “Essa droga age de forma direcionada, atacando apenas as células com receptores HER2. Isso reduz os efeitos colaterais e aumenta a chance de cura”, explicou.

Segundo Teixeira, o câncer de mama HER2-positivo corresponde a cerca de 20% dos casos diagnosticados. O novo medicamento é indicado especialmente para pacientes que, após a cirurgia, ainda apresentam doença residual, quando o tumor não desaparece completamente após a quimioterapia.

“Nessas situações, o uso do T-DM1 pode reduzir em até 50% o risco de recidiva e praticamente dobrar a sobrevida dessas pacientes”, destacou o oncologista.

A expectativa é que entre 12 e 15 mulheres por ano no Acre sejam beneficiadas com a nova terapia. O chefe do Departamento de Assistência Farmacêutica da Sesacre, Marcelo Xavier, reforça que a chegada do medicamento ao estado é resultado da incorporação recente da substância ao SUS, garantindo acesso a um tratamento mais moderno e seguro para pacientes da rede pública.

O Acre é um dos primeiros estados da Região Norte a receber o medicamento, o que representa um passo importante na descentralização do tratamento oncológico e garante mais equidade entre as regiões. A chegada do T-DM1 mostra que o estado está preparado para utilizar terapias de alta complexidade, com equipe médica, farmacêutica e infraestrutura adequadas, fortalecendo o papel da Fundação Hospitalar Governador Flaviano Melo (Fundhacre) como referência estadual em oncologia.

A compra nacional do medicamento foi realizada pelo Ministério da Saúde, com redução de 50% no preço de mercado, o que gerou uma economia estimada em R$ 165,8 milhões. O Acre não arca com custo direto neste primeiro lote, cujo financiamento é 100% federal. Além disso, o novo modelo de compra descentralizada via APAC permitirá que estados e municípios, futuramente, façam a aquisição direta com repasse de recursos federais, o que deve agilizar o acesso e reduzir o tempo de espera entre a prescrição e o início do tratamento.

O secretário de Estado de Saúde, Pedro Pascoal, destacou que a chegada do novo medicamento marca um avanço histórico para o sistema de saúde do Acre.

Secretário de Saúde, Pedro Pascoal/Foto: ContilNet

“É um marco histórico pra gente. O Acre já foi contemplado primeiramente com a vacina da dengue, com o tratamento contra o metanol e agora, novamente, está entre os primeiros estados a receber a medicação para determinados tipos de câncer de mama. É um tratamento de aproximadamente R$ 18 mil, agora custeado pelo governo federal, o que alivia os cofres do estado e reforça o compromisso da gestão em beneficiar os pacientes”, afirmou.

Pascoal também explicou que o novo medicamento fortalece um dos três pilares do tratamento oncológico: a quimioterapia, a cirurgia e a radioterapia.

“Recentemente atualizamos o nosso acelerador linear e hoje temos o aparelho mais moderno da Região Norte, com fila zero para radioterapia. Agora também fortalecemos a parte da quimioterapia, garantindo que o medicamento se torne algo fixo dentro dos serviços ofertados pelo estado”, completou.

O secretário acrescentou que a responsabilidade pela distribuição do medicamento é inicialmente da União, mas o Acre está preparado para agir caso haja necessidade.

“Se houver falta, o estado pode realizar a compra e, em seguida, o Ministério da Saúde cofinancia 80% do valor. Existe toda uma articulação para que o Acre não fique desabastecido”, garantiu.

Além disso, Pascoal lembrou que o estado vem investindo em outras políticas voltadas às mulheres com câncer de mama, como o programa Opera Mama, lançado em 2024.

“Nós temos uma lei federal que garante diagnóstico em até 60 dias e início de tratamento em até 90. Também há uma lei que assegura à mulher a reconstrução mamária com prótese. Nós lançamos esse programa no ano passado, com mais de R$ 400 mil investidos em próteses mamárias, garantindo cirurgias reparadoras e o restabelecimento da autoestima dessas pacientes”, destacou o gestor.

O chefe do Departamento de Assistência Farmacêutica da Sesacre, Marcelo Xavier, também comentou que o avanço faz parte de uma nova fase na política de assistência em oncologia.

O Acre é um dos primeiros estados da Região Norte a receber o medicamento/Foto: ContilNet

“Já é uma luta de algum tempo dos estados a criação da nossa AFI oncológica, o componente da assistência farmacêutica específico para oncologia. O governo federal já tinha o componente básico, o estratégico e o especializado, e agora passa a ter também esse novo modelo voltado aos medicamentos e serviços oncológicos”, explicou.

Segundo ele, a portaria da AFI oncológica deve beneficiar diretamente os estados, com repasse de recursos para serviços e medicamentos de alto custo, abrangendo inicialmente seis medicamentos oncológicos, incluindo o Trastuzumabe Entansina.

“Antes havia muita judicialização porque não estava claro o que era responsabilidade do governo federal e o que era dos estados. Agora teremos um regramento claro, o que deve ampliar o leque de medicamentos disponíveis”, afirmou Xavier.

Ele destacou que o Trastuzumabe Entansina foi adquirido de forma centralizada pelo Ministério da Saúde, sendo 100% financiado pelo governo federal.

O Acre não arca com custo direto neste primeiro lote, cujo financiamento é 100% federal/Foto: ContilNet

“Estamos recebendo duas apresentações, de 100 mg e 600 mg, para garantir o suporte completo às nossas pacientes. A próxima remessa será enviada a cada três meses, de acordo com a programação dos estados, como já ocorre com os medicamentos do componente especializado”, explicou.

Xavier agradeceu ainda o apoio da gestão estadual e federal. “Quero agradecer ao nosso secretário Pedro Pascoal, que tem tido sensibilidade com a assistência farmacêutica, e ao governo federal pela parceria. Estamos trabalhando juntos para atender melhor nossos pacientes, não só na oncologia, mas em toda a rede estadual”, concluiu.