Durante Festival Puyanawa em Mâncio Lima, alimentação escolar apresenta receitas que valorizam a cultura do povo Puyanawa

O aroma de pamonha invadiu o 7º Festival Puyanawa, nesta terça-feira, 22, em Mâncio Lima. Mas não era uma pamonha comum. Feita com atsa, a mandioca sagrada para o povo Puyanawa, a receita foi preparada pelos próprios estudantes da Escola Estadual Indígena Ixū̃bãy Rabuī Puyanawa. A iniciativa foi conduzida pela Divisão de Nutrição da Secretaria de Estado de Educação e Cultura do Acre (SEE), dentro do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), e deu origem a um livro de receitas que é, ao mesmo tempo, um manifesto cultural.

Receita preparada por estudantes da Escola Ixū̃bãy Rabuī Puyanawa é apresentada durante o 7º Festival Puyanawa, como símbolo da valorização cultural promovida pela alimentação escolar. Foto: Vinícius Charife/SEE

“Os alunos construíram com muito carinho uma cartilha que nomeamos de Sabores da Nossa Terra: Atsa. A ideia foi resgatar e valorizar a cultura alimentar do povo Puyanawa, num momento em que a própria comunidade busca reencontrar suas raízes”, relata a nutricionista Lorena Lima, responsável pela Divisão.

No dia do lançamento, duas receitas escolhidas pelos estudantes foram preparadas e apresentadas para a comunidade: a pamonha de atsa com castanha e a farofa de atsa com casca de banana. Ambas foram destaque na degustação e encantaram pela simplicidade e sabor. “Fiquei bastante admirada, porque nunca tinha visto uma pamonha feita com mandioca. Achei incrível. Esse alimento é essencial para o nosso povo. Pode se transformar em várias receitas e também ser uma fonte de renda”, conta Analu Araújo, aluna da escola indígena.

Durante o 7º Festival Puyanawa, estudantes e representantes da comunidade apresentaram a cartilha Sabores da Nossa Terra: Atsa, resultado do trabalho pedagógico da Escola Estadual Indígena Ixū̃bãy Rabuī Puyanawa em parceria com a Secretaria de Educação e Cultura do Acre. Foto: Vinícius Charife/SEE

Para a gestora da escola, Edevânia de Araújo Alves Puyanawa, o projeto chegou no momento certo: “Fortalece nossa cultura. Vimos que podemos utilizar a macaxeira de diversas maneiras. Isso não ficou só na escola. Levamos para as famílias e para as futuras gerações”.

A receptividade dos estudantes foi imediata. A escola se envolveu desde o planejamento até a execução das receitas. “Nunca tinham visto algo diferente feito com um produto tão comum para nós. Hoje, estamos mostrando para toda a comunidade aquilo que construímos juntos”, enfatiza.

Coordenador do Núcleo de Educação de Mâncio Lima, Alcione Benevides, ao lado da gestora da escola indígena Ixūbãy Rabuī Puyanawa, Edevânia Puyanawa. Foto: Vinícius Charife/SEE

Conhecimento que alimenta

A cartilha “Sabores da Nossa Terra: Atsa” reúne receitas tradicionais que utilizam a atsa como base, respeitando diretrizes nutricionais e as especificidades culturais do povo Puyanawa. Entre os pratos estão o biscoitinho de atsa com aveia, o caldinho verde de atsa com charque, a torta assada de atsa com frango e a geleia de atsa com abacaxi.

A proposta é ampliar a iniciativa para outras etnias e escolas do Acre. “Esse é um projeto piloto. Queremos levar para outras aldeias e regionais, valorizando alimentos da floresta e a identidade dos povos”, reforça Lorena Lima.

Cartilha reúne receitas com base de atsa, a mandioca sagrada dos Puyanawa. Foto: Vinícius Charife/SEE

A escola que ensina a manter viva a cultura Puyanawa

Criada em 1914 como Escola 13 de Maio, a Escola Estadual Indígena Ixū̃bãy Rabuī Puyanawa passou a adotar esse nome em 2006, em homenagem a dois líderes do povo Puyanawa: o senhor Ixŭbãy e a senhora Rabuī.

Localizada na terra indígena Puyanawa, na aldeia Barão, no município de Mâncio Lima, a escola atende 228 estudantes com uma matriz curricular própria, voltada para o fortalecimento da cidadania, da cultura, da biodiversidade e da relação com a terra. Além das disciplinas regulares, os alunos aprendem a língua Puyanawa e têm formações voltadas para práticas ecológicas e culturais.

A gestora Edevânia também é filha da comunidade. Em cada ação educativa, carrega a responsabilidade de ensinar não apenas conteúdo, mas identidade. “Educar aqui é preservar, é lembrar, é manter vivo”, finaliza a gestora.