Resultados que deixam aspirantes a cargos em êxtase e militância eufórica; seria pesquisa ou ‘arma secreta’?

Nesta altura do campeonato, o que não falta é cálculo eleitoral de partidos, candidatos e jornalistas, tentando ser a “Mãe Dinah” da vez. Em alguns casos a torcida é tão descarada que dá vergonha alheia, principalmente quando os acordos não são cumpridos ou seus candidatos sofrem algumas perdas de apoio. De alguns até vejo as lágrimas derramarem no teclado.

E as pesquisas? Por essas horas, aqui, ali e alhures, tem gente à mesa analisando resultados ou pensando em fazer a própria pesquisa. Outras são publicadas com registro no TRE e tudo, como se, de fato, os resultados adquirissem atestado de idoneidade com aquele carimbo cartorial.

As pesquisas eleitorais no Brasil, digo as publicadas, faz tempo, passaram a ser apenas e tão somente arma de campanha. A ideia central é estimular o eleitor útil (ou inútil, dependendo do olhar), aquele que não quer “perder o voto” e tende a embarcar na canoa que está na dianteira. Divulga-se que “fulano vai ganhar” e os indecisos ficam abalados e dispostos a ouvir o chamado do virtual vencedor.

Outra função da pesquisa é atrair apoios, ou seja, lideranças e, em alguns casos, partidos políticos inteiros. Além disso, apoio financeiro – ainda tem muita campanha regada a recursos privados por fora da lei eleitoral. Empresários de olho no orçamento municipal tendem a amparar aquele que teoricamente está à frente nas pesquisas.

Há ainda o efeito para dentro – o estímulo à militância. Com seu candidato com maiores chances de vitória, tudo que é cabo eleitoral, candidatos a vereadores, famílias, aspirantes a cargos etc., ficam alvoroçados e obviamente, dispostos a mais sacrifícios em nome daquele que, ganhando corresponderá a suas expectativas.

Com essa capacidade de impacto no eleitorado, não é de estranhar que muitas pesquisas apareçam por aí com dados um tanto perturbadores. Não é fácil afirmar que determinada pesquisa foi fraudada, mas, creiam, raramente ela é 100% o retrato da realidade como propagam, há muitas chances de erro. Explico:

Assim, apenas no campo técnico se pode apontar, por exemplo: a) Erro no questionário – determinado instituto pode intencionalmente inserir erros no questionário que favoreçam/induzam determinada resposta. Isso pode ser feito através do sequenciamento de perguntas, vieses, ambiguidades, falta de clareza, etc.; b) Erro na coleta de dados – aqui, o mais comum é o entrevistador mal treinado, tendencioso; c) Erro de viés na resposta – é o caso de o entrevistado, por algum motivo, querer agradar o entrevistador, ir pelo senso comum ou querer logo se desvencilhar da pesquisa; d) Erro de amostra – ocorre quando a amostra não retrata fielmente o eleitorado não considerando a diversidade da população; e)Definição da amostra – um número demasiadamente pequeno pode distorcer o resultado; f) Baixa taxa de resposta -ocorre quando uma elevada taxa de pessoas abordadas se nega a responder, isso significa que os resultados ao terem uma baixa taxa de resposta, pode não retratar o universo pesquisado.

Como se não bastassem tantas possibilidades, os resultados podem simplesmente ser manipulados em escritório, o que não é difícil. Para não destoar muito da realidade percebida socialmente, o costume é utilizar a margem de erro. E o resultado apresentado tem total verossimilhança.

Como visto, há mais elementos para ter cautela com as pesquisas do que para abraçá-las sem ligar o desconfiômetro. É claro que não estou a dizer que esta ou aquela pesquisa é ou foi manipulada ou contém algum erro. Longe disso. Estou afirmando que seus resultados são muito explorados especialmente por quem nelas aparece à frente, mobilizando a imprensa e a opinião pública e, ocasionalmente, podem não estar entregando exatamente o que prometem. Partindo do pressuposto de que ninguém gasta dinheiro à toa, os partidos realizam as pesquisas para consumo próprio e definição tática e estratégica da campanha, portanto, não vão mentir para si mesmos.

Então, é o seguinte: Para consumo interno, as pesquisas precisam ser maximamente corretas e, para consumo externo, ou seja, para divulgação, elas precisam ser maximamente funcionais, o que me faz lembrar o falecido senador baiano Antônio Carlos Magalhães, que dizia “Só confio nas pesquisas que eu mesmo manipulo”.

Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site AC24HORAS e, eventualmente, no seu BLOG, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no DIÁRIO DO ACRE, no ACRENEWS e em outros sites. Quem desejar adquirir seu livro de contos mais recente “Pronto, Contei!”, pode fazê-lo através do e-mail valbcampelo@gmail.com.