Em mais uma expedição pelo Rio Purus, pesquisadores do Acre e Amazonas encontraram novos fósseis do Purussaurus brasiliensis, conhecido como lagarto do Rio Purus, que viveu na Amazônia há mais de 8 milhões de anos.
O achado foi nesta semana em uma área que fica em Boca do Acre, na divisa do Acre com o Amazonas, em uma área considerada rica nesse tipo de material. A expedição, que durou cerca de quatro dias, contou com a pesquisadores da Universidade Federal do Acre e também do Museu da Amazônia (Musa).
Foram achados mandíbula e crânio do purussaurus — Foto: Ruan Fogo/Arquivo pessoal
A paleontóloga Lucy Gomes de Souza, do Musa, conta que essas expedições começaram em 2019 em comemoração aos 35 anos do laboratório de paleontologia da Ufac. Os pesquisadores se reuniram para refazer o trajeto de uma pesquisadora pela área do Rio Purus. Este sítio arqueológico, apesar de não catalogado, tem um rico material.
“Em 2019, a gente revisitou os locais por onde essa paleontóloga havia passado no Rio Purus, já em Boca do Acre, e achamos um novo sítio, ainda não documentado, que se chama Cajueiro e nesse sítio encontramos várias evidências de Purussaurus. É um sítio estupendo, porque, além de fósseis gigantescos, tem também fósseis minúsculos, como espinha de peixe, por exemplo. Então, com essa descoberta começamos a elaborar visitas anuais ao Cajueiro”, conta
Em 2019, foi encontrada a mandíbula do Purussaurus e começou a retirada dela, que se estendeu até 2020. E no começo desta semana, ao retomar as escavações, acharam mais uma nova mandíbula do animal e também uma parte do crânio.
“Agora as peças serão levadas à Ufac e depois devem ser transportadas para o Musa, em Manaus, porque, como foi em território amazonense, a gente tem esse acordo de cavalheiros dessas peças ficarem nos estados em que foram encontradas. Lembrando que o Purussaurus que encontramos em 2019, e que tiramos fósseis até hoje, é o mais completo do mundo em termos de variedade de ossos”, esclarece.
Agora, o grupo já se organiza para tentar uma nova expedição no mesmo local ainda em 2022.
Material foi achado na divisa do Acre e Amazonas — Foto: Ruan Fogo
Nova descrição
No começo do mês um, um artigo redescreveu a espécie. Para essa redescrição, foram analisados alguns fósseis do animal achados em anos diferentes, um deles – o mais completo já encontrado – está no laboratório de paleontologia da Universidade Federal do Acre (Ufac). Com isso, ficaram reforçadas algumas características da espécie achada no Brasil, a tornando única.
Segundo os estudiosos, podendo chegar a mais de 12 metros, o Purussaurus foi o maior crocodilo que viveu no planeta em qualquer tempo. O primeiro fóssil do animal foi achado em 1892 às margens do Rio Purus e chegou até as mãos do botânico João Barbosa Rodrigues, responsável pelo Museu de Botânica da Amazônia na época do império e também o primeiro a classificar o crocodilo.
Maior crocodilo do mundo que viveu no Acre há milhões de anos foi redescrito em artigo científico — Foto: Valter Calheiros/Musa
Características do ‘super jacaré’
O que estudos apontam, até o momento, sobre o Purussaurus brasiliense, é que ele seria um parente distante do jacaré-açu. Ele ocupava a Amazônia ocidental e foi o maior crocodilo já registrado em todo o mundo.
Ele podia passar dos 12 metros. A mordida do Purussaurus era duas vezes mais forte que a do Tiranossauro Rex, o mais notório dos dinossauros. O jacaré pré-histórico, segundo as pesquisas, precisava comer uma média de 40 quilos de carne diariamente.
“Tem registros dele na Venezuela, mas nenhum dos exemplares é compatível com os brasilienses, eles foram os maiores, o maior já conhecido no mundo”, enfatiza o paleontólogo Jonas Filhos.
Na Amazônia miocênica, o Purussaurus comandava, mas o surgimento da Cordilheira dos Andes, que teve um impacto profundo no meio-ambiente do continente inteiro, e ainda mais dramático na região amazônica, fez com que ele ficasse extinto e esquecido por muitos anos.
Na Ufac também está guardado mais um fóssil que pode ser do animal. O material foi achado em 2019 pelo pequeno Robson Cavalcante, que tinha 11 anos na época. O fóssil estava enterrado às margens do Rio Acre, no município de Brasileia, no interior do estado.
Logo depois, a mandíbula que foi achada foi levada para o laboratório da Ufac e ainda aguarda os estudos que deve a descrever.
“O material continua envolto no gesso como foi retirado do campo, nenhum estudo junto a ele foi feito, mas tem proporções iguais a esse que está na universidade. Segue à espera de estudos e vai colaborar ainda mais com as informações, podendo se tratar, inclusive, de uma espécie diferente e causar especulações de surpresa”, finaliza Filho.
Expedições ocorrem desde 2019 no Rio Purus — Foto: Ruan Fogo
Por G1 AC