Indígenas bloqueiam Rio Môa, impedindo passagem de servidores públicos e turistas

Na manhã deste domingo, 18, indígenas da etnia Nawa fecharam a passagem pelo rio Môa, pegando de surpresa servidores públicos e turistas que visitam o Parque Nacional da Serra do Divisor.

O Povo Nawa reteve 12 servidores do governo estadual na aldeia que fica na Serra do Divisor, no interior do Acre. A informação foi confirmada por uma liderança indígena e também pela secretária de Empreendedorismo e Turismo, Eliane Sinhasique. A coordenação da Fundação Nacional do Índio (Funai) também está acompanhando a situação.

O protesto, segundo a secretária, é para cobrar celeridade no processo de demarcação das terras indígenas dos Nawas. Eliane conta que a equipe do governo estava na comunidade fazendo capacitação e dando treinamento para a população que trabalha com turismo na região.

Os servidores estavam voltando desse treinamento quando foram retidos na aldeia e, por telefone, em um ponto que pega sinal de internet informaram ao governo estadual a situação. Entre os servidores, estão funcionários da Comunicação, de Turismo e Empreendedorismo do estado.

“Inclusive, algumas comunidades indígenas também passaram por esse treinamento, mas o governo já mobilizou o helicóptero que está saindo hoje [domingo,18] de Rio Branco para estar lá amanhã [segunda, 19] cedinho em Cruzeiro do Sul. A aeronave não tem autonomia para ir direto, mas já informamos à Funai, Polícia Federal e todos os órgãos responsáveis para tentarmos fazer o resgate desses funcionários”, disse.

Os organizadores de turismo na região foram pegos de surpresa com a ação dos Nawas. Como a gente não sabia desse movimento, hoje mesmo enviamos diversos turistas para a Serra do Divisor. Têm diversas pessoas prejudicadas com isso, entre servidores públicos, jornalistas e empresários. Tem um médico de São Paulo, que veio com os filhos visitar a Serra, e agora estão no meio do caminho, sem mantimentos, hospedagens e segurança” conta Najara Rocha.

Lucila Nawa, uma das representantes da etnia, disse que não está na aldeia, mas está ciente do movimento. Segundo ela, não é justo que o governo queira fomentar o turismo da região por meio da Serra do Divisor e que a questão das terras não seja resolvida.

“Os parentes fecharam o rio pedindo a demarcação de nossas terras. A gente já tinha conversado que, enquanto não resolverem nosso caso, não vai ter viagem de turista para a Serra do Divisor. As pessoas estão preocupadas com turismo e para poder acontecer isso tem que ter a demarcação de terra. O cacique já estava com esse plano e por isso esse pessoal agora está preso lá”, destaca.

“Ficamos muito surpresos, porque esse processo está em andamento, cumprindo todas as etapas, porque são levantamentos topográficos, georreferenciamento, estudo antropológico, tem uma série de critérios a serem cumpridos para que haja a homologação e esse procedimento está ocorrendo no ritmo normal da burocracia necessária para ter essa homologação. Não teve violência, nenhuma agressão, o que eles exigiram é que nossa equipe entrasse em contato com a Funai, ICMBio, que queriam a presença da Funai lá dentro e nossa equipe subiu em um ponto de internet, que fica a 30 minutos e começaram a se comunicar para que a gente pudesse fazer essa mobilização com os órgãos, para que a gente pudesse levar a demanda para os órgãos federais que lidam com essa questão das terras indígenas. Mas, estamos muito assustados e apreensivos”, disse.

A coordenação da Funai no Juruá informou que “estão acompanhando o acontecimento e tomando todas as providências possíveis juntamente com as autoridades responsáveis para sanarmos o ocorrido”.

Povo Nawa
O povo Nawa perdeu parte do seu território no “tempo das correrias”, devido aos conflitos com seringalistas interessados na exploração de recursos naturais na região, sendo sua terra reduzida ao que hoje compreende parte da área norte do Parque Nacional da Serra do Divisor.

São pelo menos 22 anos de espera. A consequência deste processo pela demarcação é a invasão para caça, pesca, formação de pastagem para criação bovina e retirada de madeira, além de ocupação ilegal, que prejudica as quase 50 famílias indígenas que vivem na região dos igarapés Jordão, Pijuca, Novo Recreio, Boca do Branco, 7 de Setembro, Aquidabá, Jarina, Venâncio, Jesumira e na margem direita do rio Moa.

As invasões têm se intensificado desde 2019, e deste período para cá foram identificados mais de 100 vestígios de invasões na região do Rio Azul e na outra margem do Rio Moa.

Na terra Nawa foram registradas 31 localidades com malocas antigas, muitas estruturas com boas condições, e também foi destacada a presença de isolados no território e na fronteira com o Peru.

Na região onde está a terra dos Nawas também há as terras indígenas Poyanawa e Nukini, que junto com o Parque da Serra do Divisor somam uma área de 8 mil quilômetros quadrados.

Com informações do G1